Governança financeira no jurídico

Governança financeira no jurídico Como transformar o contencioso em centro de valor Nos departamentos jurídicos, o tema orçamento raramente entra em pauta — até que uma auditoria interna ou externa pressione por respostas. É aí que surgem as perguntas difíceis: quanto se gasta com processos? O que representa risco real e o que é desperdício? Há controle sobre os depósitos judiciais? Existe previsibilidade financeira? É nesse contexto que a governança financeira no jurídico se torna indispensável. Mais do que acompanhar despesas, ela permite estruturar processos e controles internos, monitorar riscos e demonstrar o impacto financeiro das decisões jurídicas e consequentemente melhorar o desempenho. Afinal, embora o jurídico ainda seja visto por muitas empresas como um centro de custo, é plenamente possível — e necessário — torná-lo um centro de valor estratégico. E essa virada começa com dados, processos e automação aplicados nos pontos certos da operação. Neste artigo, reunimos exemplos práticos para mostrar como iniciar essa transformação com eficiência e segurança. O que é governança financeira no jurídico? A governança financeira no jurídico refere-se ao conjunto de práticas que asseguram uma gestão eficiente dos recursos financeiros envolvidos em atividades legais — como o acompanhamento de processos judiciais, o pagamento de honorários, a gestão de provisões e depósitos, entre outros. Ela envolve ações como: Análise de custos e investimentos em demandas jurídicas; Avaliação de riscos financeiros associados a processos e contingências; Controle orçamentário e previsibilidade das despesas; Definição e acompanhamento de KPIs jurídicos (indicadores de desempenho); Alinhamento entre jurídico, financeiro e auditoria interna. O objetivo não é apenas controlar gastos, mas demonstrar como o departamento jurídico pode contribuir para os resultados da empresa — reduzindo perdas, identificando oportunidades e garantindo conformidade com boas práticas. O tema tem ganhado espaço nos debates sobre o papel estratégico do jurídico. Segundo análise do JOTA, departamentos jurídicos estão cada vez mais pressionados a entregar indicadores objetivos e resultados financeiros mensuráveis, aproximando-se das práticas de controladoria e compliance já consolidadas em outras áreas da empresa. Por que investir em governança financeira no jurídico? Historicamente, muitos departamentos jurídicos enfrentam a percepção de serem centros de custo. No entanto, com uma abordagem voltada para a governança financeira, é possível transformar essa visão. A transformação começa pela análise das despesas jurídicas e a identificação de oportunidades de eficiência. A Preâmbulo Tech destaca que a gestão financeira é uma das 12 competências essenciais do Legal Operations, sendo crucial para a administração dos recursos financeiros do departamento jurídico, incluindo orçamentação, planejamento, controle de custos, análise de investimentos e relatórios financeiros. Ao adotar práticas de Legal Ops, as empresas buscam aumentar a transparência, reduzir custos, melhorar a produtividade, mitigar riscos legais e tomar decisões informadas com base em dados. Essas práticas de governança são fundamentais para transformar o departamento jurídico em uma função estratégica dentro da organização. Exemplo 1 — Redução de gastos com terceiros Uma empresa decidiu realizar um diagnóstico detalhado sobre seus gastos com o contencioso. Ao mapear atividades e custos associados, identificou que mais de 40% do orçamento jurídico estava concentrado em honorários de escritórios externos — com pouca padronização contratual ou avaliação de desempenho. Com base nesse mapeamento, renegociou contratos, criou critérios objetivos para alocação de demandas e passou a utilizar soluções tecnológicas para triagem automatizada. O resultado foi uma redução de 30% nos custos ao longo de 12 meses — com redistribuição dos recursos para áreas como compliance e prevenção de litígios. Exemplo 2 — Acompanhamento por indicadores (KPIs) Outra organização optou por estabelecer KPIs para acompanhar o desempenho do jurídico. Entre os indicadores adotados estavam: Custo médio por processo; Tempo médio de encerramento de ações; Taxa de êxito por tipo de demanda; Volume de acordos em comparação com sentenças. Com essas métricas em mãos, o departamento jurídico conseguiu identificar padrões de ineficiência, ajustar sua estratégia de defesa e priorizar acordos em situações de alto risco financeiro. Em um ano, a empresa reduziu em 20% o custo total com litígios e aumentou a previsibilidade das provisões. De acordo com a LawVision, métricas bem definidas são essenciais para qualquer programa jurídico que busque eficácia real — especialmente quando ligadas a resultados e objetivos estratégicos. Não se trata apenas de medir volume, mas de acompanhar atividades que realmente movem a operação na direção dos resultados esperados. Exemplo 3 — Eficiência via auditoria de processos Durante uma auditoria interna, um departamento jurídico identificou que processos redundantes estavam atrasando a tramitação de casos e elevando os custos operacionais. O tempo médio de tramitação era 25% superior ao necessário, com etapas manuais e pouco padronizadas. A partir do relatório de auditoria, redesenhou-se o fluxo de trabalho: tarefas repetitivas foram automatizadas, documentos foram centralizados e novas rotinas de controle foram estabelecidas. O impacto foi visível tanto na agilidade dos prazos quanto na redução do risco de falhas administrativas. A importância da auditoria jurídica nesse contexto é destacada pela Projuris, que ressalta como esse processo permite identificar falhas e inconformidades legais dentro da organização, ajudando a evitar litígios, multas e outras penalidades que podem afetar a empresa não apenas juridicamente, mas também financeiramente. Exemplo 4 — Automação como estratégia Em busca de agilidade, uma empresa de médio porte adotou um sistema de automação de documentos jurídicos, com foco na criação de contratos e petições. Antes, esse processo levava dias — com múltiplas versões, revisões e gargalos entre áreas. Com a automação, a elaboração passou a levar horas, e os documentos saíam com dados integrados de sistemas jurídicos e financeiros, reduzindo o retrabalho e os erros na tomada de decisão. Além do ganho de tempo, houve melhora perceptível na qualidade das entregas e na interação entre jurídico e áreas parceiras. Exemplo 5 — Formação e cultura financeira no jurídico Ex: Uma multinacional implementou um programa de capacitação em gestão financeira para todos os colaboradores do departamento jurídico, focando na importância da gestão financeira e da governança. O resultado foi uma cultura de responsabilidade e eficiência, onde cada colaborador se tornou consciente de como suas ações impactavam o resultado financeiro. Com isso, foi possível implementar